A invencível Noruega

Seleção da Noruega na Copa do Mundo de 1994

Dentre os mais de 90 países que a seleção brasileira enfrentou, existe apenas um que já venceu a seleção canarinho e que nunca foi derrotado pelos brasileiros. E como o título do texto já adianta, esse país é a Noruega.

O futebol não é uma novidade no país escandinavo. Apesar das poucas participações em competições internacionais com sua seleção (Copas do Mundo de 1938, 1994 e 1998 e  Eurocopa de 2000), a federação local foi fundada em 1902. Os estádios do país costumam lotar para assistir aos principais clubes locais, como os populares Rosemborg, Molde ou o Lillestrom, e chutar uma bola de futebol é a prática esportiva mais popular entre os noruegueses. Recentemente, o furacão Haaland (atacante do Borussia Dortmund) tem colocado em evidência novamente o futebol do país.

A seleção brasileira já encontrou a Noruega pela frente em quatro oportunidades. Falemos da primeira delas…

Oslo, no caminho das Olímpiadas de Seul

Os brasileiros estavam confiantes para conquistar a medalha de ouro nos jogos olímpicos de Seul, em 1988, e para isso, além de uma forte equipe, comandada por Carlos Alberto Silva, foi planejada uma verdadeira maratona de amistosos de preparação para aquele time.

No dia 28 de julho de 1988, pela primeira vez na história, estavam em campo brasileiros e noruegueses, na cidade de Oslo, capital da Noruega. Pelo lado brasileiro, os ainda jovens Taffarel, Jorginho, Ricardo Gomes, Valdo e Romário. Era, de fato, uma forte seleção brasileira.

Porém, o jogo terminou empatado. O então atacante do Lillestrom, Jan Åge Fjørtoft, com seus 21 anos, marcou o primeiro da partida aos 4 do segundo tempo, e o experiente atacante do Corinthians, Edmar, que reforçava aquele time de jovens talentos olímpicos, empatou faltando pouco menos de 10 minutos para o final. E foi só naquele embate de 1988: Noruega 1 x 1 Brasil.


Jan Åge Fjørtoft, autor do primeiro gol da história dos confrontos entre Brasil e Noruega

Nove anos depois… e o Brasil volta a Oslo

Eram 1290 dias sem perder por parte da seleção brasileira principal. Ou, em números de jogos, 46, incluindo toda a campanha do tetra em 1994. E lá foi a seleção brasileira, em preparação para o Mundial de 1998, jogar contra a Noruega em Oslo novamente, o dia era 30 de maio de 1997.

Dessa vez, o treinador Zagallo pôde contar com o que o país tinha de melhor, e entrou em campo com a seguinte escalação: Taffarel, Cafu, Célio Silva, Márcio Santos e Roberto Carlos; Mauro Silva, Dunga, Djalminha e Leonardo; Romário e Ronaldo. Sim, estavam em campo, juntos, ROMÁRIO e RONALDO.

Do lado norueguês, os destaques ficavam por conta de Rekdal e Tore Andre Flo. A curiosidade fica por conta do pai do atual artilheiro Haaland, trata-se de Alf-Inge Haland, que compunha o sistema defensivo dos escandinavos.

Mais de mil dias e quase 50 jogos de invencibilidade começaram a ser minados pelos noruegueses em apenas 8 minutos de jogo. O atacante Petter Rudi, que defendia o inglês Sheffield Wednesday na época, marcou logo no início. Dez minutos depois, Tore Andre Flo (que jogava no Chelsea) marcou mais um. Na sequência, aos 19 do primeiro tempo, Djalminha descontou e parecia que o Brasil tinha acordado. Mas aos 32 minutos, lá estava ele de novo, o gigante Tore Andre Flo, do alto dos seus 1,93m, para fazer inacreditáveis 3 a 1 para a Noruega ainda na primeira etapa.

Ronaldo entre os noruegueses Henning Berg (primeiro plano) e Alf-Inge Haland (ao fundo). Romário observa o lance ao fundo.

No segundo tempo, Romário, em jogada bem ao seu estilo, descontou para os brasileiros e, de novo, deu a impressão de que o Brasil correria atrás do prejuízo, mas… aos 27 do segundo tempo, Egil Østenstad (que atuava pelo Southamptom da Inglaterra) deu números finais à partida. Caia uma longa invencibilidade da equipe brasileira, e foi a única derrota de Ronaldo e Romário juntos na seleção: Noruega 4 x 2 Brasil.

Copa do Mundo de 1998: o confronto mais importante entre Brasil e Noruega

Quis o destino, e as bolinhas do sorteio da FIFA, que Brasil e Noruega caíssem no mesmo grupo da Copa do Mundo de 1998, disputada na França. As duas seleções tinham, no Grupo A da Copa, a companhia de Escócia e Marrocos.

O confronto entre as equipes, pela primeira e única vez até hoje disputado fora de Oslo, aconteceu em Marselha, no dia 23 de junho de 1998. Era a terceira rodada da primeira fase do mundial. O Brasil, com 6 pontos, já estava classificado em primeiro lugar da chave. A Noruega, com 2 pontos, precisava da vitória para se classificar caso houvesse vencedor na partida entre Escócia e Marrocos. As informações da partida disputada em Saint-Étienne começavam a chegar e os marroquinos, ainda no primeiro tempo, já ganhavam por 2 gols de diferença. Acabaram vencendo por 3 a 0. Ou seja, para os noruegueses, apenas uma improvável vitória sobre a forte seleção brasileira interessava. Em campo, o Brasil tinha naquele dia: Taffarel, Cafu, Júnior Baiano, Gonçalves e Roberto Carlos; Dunga, Leonardo, Rivaldo e Denilson; Bebeto e Ronaldo. A Noruega dispunha do atacante Tore Andre Flo em campo, Rekdal estava também mais uma vez escalado pelos escandinavos e um jovem, hoje treinador do Manchester United, Ole Gunnar Solskjær, entrou em campo aos 23 do segundo tempo.

Após um primeiro tempo que terminou empatado sem gols, a partida seguiu com dois zeros no placar até os 33 minutos do segundo tempo, quando Bebeto parecia começar a definir o jogo ao fazer 1 a 0 para os brasileiros. A Noruega partiu, então, com tudo para o ataque, afinal só a vitória os colocaria nas oitavas de final pela primeira vez em sua história. O inacreditável começou então a acontecer, e ele, sempre ele, Tore Andre Flo (que ainda estava no Chelsea), aos 38 minutos da etapa final, após um drible que deixou o zagueiro brasileiro Júnior Baiano até hoje procurando o atacante, empatou a peleja.  Aos 43 minutos, mais uma vez Júnior Baiano e Flo disputam uma jogada na área e o zagueiro comete pênalti no norueguês. O experiente Rekdal (que defendia o Hertha Berlin na ocasião) cobra e vira a partida. A Noruega estava classificada. Resultado final na noite de verão francesa em 1998: Brasil 1 x 2 Noruega.

Tore Andre Flo se livra de Júnior Baiano para empatar o jogo na Copa do Mundo de 1998
Rekdal cobra o pênalti e decreta a histórica virada norueguesa

2006, o último confronto entre Brasil e Noruega até hoje

Após a derrota brasileira na Copa do Mundo de 2006, o treinador Carlos Alberto Parreira deu lugar ao jovem, porém ainda inexperiente na função, Dunga. E a estreia do ex-jogador como técnico da seleção aconteceu justamente em um amistoso em Oslo, capital da Noruega.

No dia 16 de agosto de 2006, brasileiros e noruegueses disputaram sua última partida até aqui. Pelo lado brasileiro, além da primeira partida de Dunga como treinador, os destaques em campo eram o goleiro Gomes, o zagueiro Juan, Gilberto Silva no meio e o jovem atacante Fred no ataque. Pela Noruega, destaque para a presença, dessa vez como titular, de Solskjær e do bom defensor Riise.

Os gols da partida saíram no segundo tempo, e, como sempre aconteceu nos jogos entre as duas seleções em Oslo, os noruegueses abriram o placar. Aos 5 minutos da etapa final, Pedersen, que ainda joga e na época jogava pelo inglês Blackburn Rovers, marcou o gol da Noruega. O Brasil correu atrás do empate e conseguiu igualar o resultado. Aos 16 minutos do segundo tempo, Daniel Carvalho marcou para os brasileiros. Mas foi só, invencibilidade norueguesa mantida: Noruega 1 x 1 Brasil. 

Ole Gunnar Solskjær na partida entre Noruega e Brasil no ano de 2006.

As três vezes do Guarani na Libertadores

Equipe do Guarani que disputou a Libertadores da América de 1979

Existiu um tempo em que chegar na Libertadores não era tarefa fácil. Se as gerações mais novas se acostumaram a ver metade dos participantes do Campeonato Brasileiro alcançar uma vaga na taça, há alguns anos a missão era extremamente complicada. Abro o texto explicando isso para dar uma dimensão ao leitor (a) do tamanho do feito do Guarani de Campinas.

Em 1979, quando o clube disputou sua primeira taça continental, apenas o campeão e o vice do Brasileiro iam para a Libertadores, o mesmo valendo para os certames de 1987 e 1988, anos que marcam as outras duas participações do Guarani. Vale lembrar que a Copa do Brasil foi criada apenas em 1989, e passou a garantir também o seu vencedor na Libertadores.

O Campeonato Brasileiro de 1978 contou com 74 participantes, um verdadeiro torneio nacional, sobretudo, levando em consideração as dimensões continentais do nosso país e sua diversidade futebolística. Após duas fases de grupos, os 8 melhores se encontravam nas quartas de final. O Guarani, que contava com uma equipe recheada de craques (que era uma coisa possível nos tempos em que as cotas televisivas não sufocavam os chamados “clubes menores”), se classificou para a fase decisiva. Desfilavam a camisa verde do clube campineiro o goleiro Neneca, além de Zé Carlos, Renato, Zenon, Bozó e o futuro parceiro de Maradona no Napoli, Careca. O treinador era Carlos Alberto Silva.

Nas quartas de final, o Guarani bateu o Sport de Recife, na semifinal derrubou o Vasco da Gama, e se credenciou para decidir o torneio em uma final toda alviverde frente ao Palmeiras. Embora o lado verde da capital do estado já tivesse dois títulos nacionais (naquela época a Taça Brasil ainda não valia como Campeonato Brasileiro), o Guarani não tomou conhecimento e, com duas vitórias, sagrou-se campeão do Brasil!  

Sendo assim, passamos para a primeira Libertadores do clube…

Capa da revista Placar com Guarani campeão brasileiro de 1978

Guarani na Libertadores da América de 1979

O então seleto torneio continental contava com apenas 21 participantes. Formavam então 5 grupos de 4, passando para a segunda fase apenas os primeiros colocados de cada grupo, e a esses se juntava o campeão da edição anterior do torneio, no caso o Boca Juniors, vencedor da edição de 1978.

O Guarani caiu em um grupo formado por brasileiros e peruanos. Lá estavam, além do clube campineiro, o Palmeiras, vice do brasileiro de 1978, e os tradicionais clubes do Peru, Universitário e Alianza Lima. A estreia do Guarani na taça continental aconteceu em 28 de fevereiro de 1979, na cidade de Lima. O Guarani não deu chance aos dos donos da casa e bateu o Alianza por 3 a 0. Alguns dias depois, na mesma Lima, o Guarani foi derrotado pelo mesmo placar pelo Universitário. O próximo adversário era o Palmeiras, e jogando no Parque Antártica (então casa do alviverde paulistano), o Guarani goleou por 4 a 1. Alavancado por essa sonora goleada, o clube emendou três novas vitórias contra os mesmos adversários, incluindo um 6 a 1 no Universitário no estádio do clube, na cidade de Campinas, o Brinco de Ouro da Princesa.

Lance da partida entre Guarani e Palmeiras na Libertadores da América de 1979

O Guarani estava então na fase final da Libertadores. Naquela época, os 6 classificados eram divididos em dois grupos. Olímpia do Paraguai, Palestino do Chile e o próprio Guarani formavam o grupo B. Nessa fase, o desempenho dos campineiros não foi o mesmo da primeira etapa e a tão sonhada vaga na final não veio. Foram 3 empates e uma derrota por 2 a 1 para o Olímpia em Assunção.

O jovem Careca com a camisa do Guarani em 1979

Menos de uma década depois, em 1986, após um Campeonato Brasileiro disputado por 80 clubes, os 16 melhores se enfrentavam no sistema mata-mata. O Guarani, que dessa vez contava com craques como Ricardo Rocha, Boiadeiro, Evair e João Paulo, e com o atual treinador da seleção brasileira, Tite, no meio de campo, passou por Vasco da Gama nas oitavas, Bahia nas quartas e Atlético-MG nas semifinais. E na final contra o São Paulo, considerada por muitos a mais emocionante decisão de todos os tempos nos campeonatos nacionais, foi derrotado pelo tricolor paulista nos pênaltis, que tinha como destaque, ironicamente, Careca, o herói bugrino de 1978.

Mas com o segundo lugar, mais uma vez, passaporte carimbado, e lá ia o Guarani sobrevoar a América do Sul….

Guarani na Libertadores da América de 1987

O ano de 1987 marca a pior participação do clube no certame continental. O sistema ainda era o mesmo de 1979, onde apenas o vencedor de cada grupo passava para a fase final. Dessa vez, na primeira fase, o Guarani tinha a companhia do São Paulo, e dos chilenos do Cobreloa (que ficou em primeiro da chave) e do Colo-Colo (que ficou em segundo). Com uma vitória (sobre o São Paulo, que terminou em último lugar do grupo), dois empates e três derrotas, o Guarani ficou em terceiro e não avançou na competição.

O atual treinador da seleção brasileira, Tite, com a camisa do Guarani

Mas 1987 ainda guardava surpresas para o Guarani. Após a CBF mostrar incertezas sobre a organização do Campeonato Brasileiro, os chamados “clubes grandes”, resolveram então criar seu próprio torneio, a Copa União, e decidiram não incluir o Guarani, atual vice campeão nacional. A CBF, semanas depois, deu sinal verde para os “grandes” disputarem a sua taça, desde que, ao final do mesma, disputassem um quadrangular contra os dois melhores colocados de um outro certame paralelo que seria disputado com chancela da Confederação Brasileira de Futebol.

Do lado da Copa União, o torneio dos “grandes”, Flamengo e Inter-RS se qualificaram para o quadrangular decisivo, do lado da CBF, Sport de Recife e Guarani. Porém, os “grandes” se recusaram a disputar o quadrangular e a CBF declarou então Sport e Guarani legítimos campeões nacionais de 1987. Fato que se mantém como oficial até os dias de hoje. Como ficou em segundo lugar, com carimbo da CBF, o Guarani ganhou o direito de disputar a Libertadores da América.

Guarani na Libertadores da América de 1988

Com os mesmos 21 participantes, na edição de 1988, o torneio tinha algumas alterações. Dessa vez dois times por grupo se classificavam. Os então 10 melhores da primeira fase se eliminariam em mata-mata, e os 5 melhores se juntariam ao atual campeão para decidir o torneio…

O clube de Campinas tinha mais uma vez o Peru como destino. Os brasileiros Guarani e Sport de Recife teriam a companhia de Alianza Lima e Universitário (os mesmos adversários do Bugre na edição de 1979 do torneio). Com 3 vitórias, 2 empates e apenas 1 derrota, para o Alianza Lima, o Guarani se classificou em primeiro lugar no grupo. Na fase eliminatória, encontrou o San Lorenzo de Buenos Aires. Com um empate por 1 a 1 na Argentina, e uma derrota em casa, por 1 a 0, o Guarani se despediu da competição sul-americana… e, até hoje, ainda não retornou.

Alguns dados do Guarani em suas 3 participações na Libertadores da América: 

24 jogos

9 vitórias

9 empates

6 derrotas

36 gols marcados

25 gols sofridos

Vale ressaltar que o clube de Campinas disputou 6 partidas contra equipes brasileiras na Libertadores e nunca foi derrotado. 

A equipe do Guarani que disputou a final do Campeonato Brasileiro de 1986

A desintegração iugoslava dentro das quatro linhas

Por Thiago Cassis e Guadalupe Carniel

Após uma boa Copa do Mundo em 1990, em que chegou até as quartas de final, e que caiu nos pênaltis frente a Argentina de Maradona e Goycochea, a seleção iugoslava despontava com uma geração repleta de bons jogadores, que prometiam muito para a última década do século XX. O primeiro grande torneio pela frente era a Eurocopa de 1992, sediada pela Suécia, mas, ao mesmo tempo, um conflito armado ocorria envolvendo diferentes repúblicas que compunham a Iugoslávia. O país se desintegrava de forma extremamente violenta e, em meio a isso, começa a nossa história, com a participação dos iugoslavos nas eliminatórias do certame continental.

O grupo da Iugoslávia contava com a Dinamarca, que embora tenha ficado fora da Copa de 90, ainda tinha em sua equipe remanescentes da lendária “Dinamáquina” de 1986, a Áustria, que tinha disputado o último mundial, a Irlanda do Norte, e a fraca seleção de Ilhas Faroe (região autônoma da Dinamarca).

As qualificatórias para a Eurocopa de 1992 começaram no dia 12 de setembro de 1990. Pelo regulamento, todos deveriam se enfrentar em jogos de ida e volta, e apenas o melhor colocado garantiria vaga no torneio continental. A Iugoslávia venceu na primeira partida a seleção da Irlanda do Norte fora de casa, na cidade de Belfast, por 2 a 0, e o macedônio Pancev, marcou um dos dez gols que viria a fazer para se tornar o artilheiro das eliminatórias. Naquele jogo, entraram em campo pelo lado iugoslavo, três atletas sérvios, três croatas, três macedônios, um montenegrino e um bósnio, Hadžibegić, o capitão.

O Estrela Vermelha brilha na Europa

Uma semana depois, no dia 19 de setembro, o principal time do país, o Estrela Vermelha, clube de Belgrado, então capital da Iugoslávia, fazia sua estreia na Copa dos Campeões (hoje conhecida como Champions League). O empate em casa contra os suíços do Grasshoppers não foi dos mais animadores para a sequência da equipe no torneio, afinal em uma época onde a competição era disputada em confrontos eliminatórios desde o princípio, os suíços poderiam empatar por zero a zero jogando em seus domínios para avançar. Dos atletas que entraram em campo pela seleção, uma semana antes, na estreia iugoslava, três estiveram em campo também na partida da Copa dos Campeões, entre eles o artilheiro Pancev.

Mas os resultados para os iugoslavos, dentro do campo, foram os melhores possíveis no restante de 1990. A seleção terminou o ano com uma vitória crucial frente a Dinamarca, em Copenhagen, por dois a zero. Gols do bósnio Baždarević e do croata Jarni. Quanto ao Estrela Vermelha, a equipe alcançou às quartas de final após eliminar os escoceses do Rangers.

No ano de 1991, a seleção nacional obteve a classificação para a Eurocopa de 1992, com diversas etnias, como era constituída em boa parte do século XX, tendo sérvios, croatas, bósnios, eslovenos, macedônios e montenegrinos.

Enquanto isso, o Estrela Vermelha conquistou a Copa dos Campeões e, no final do ano, o torneio Intercontinental, frente ao Colo-Colo, confirmando a força daquela brilhante geração, que seria separada em questão de meses…

Estrela Vermelha campeão da Champions League de 1991 com a brilhante geração iugoslava (arte de Marija Markovic)

O verão de 92

A Iugoslávia carimbou o passaporte para a Eurocopa da Suécia jogando contra os austríacos, no dia 13 de novembro de 1991, em Viena. Uma convincente vitória por dois a zero. Gols do sérvio Lukić e do montenegrino, e genial, Savićević. A equipe que entrou em campo era formada por três atletas bósnios, dois montenegrinos, dois eslovenos, três sérvios e um macedônio. O treinador, Ivan Osim, era de origem bósnia.

Na escalação, que trouxe o bom resultado dos gramados austríacos, é notável a ausência de jogadores croatas. Os atletas oriundos da Croácia fizeram sua última participação defendendo a Iugoslávia no dia 16 de maio de 1991, frente a equipe de Ilhas Faroe. No dia 25 de junho de 1991 a Croácia declara sua independência, aprofundando o conflito na região, e os atletas do país não voltaram a vestir a camisa iugoslava. O último croata a marcar um gol pela seleção da Iugoslávia foi Davor Šuker na partida contra os feroeses. A Federação Croata de Futebol só conseguiria filiar-se à FIFA em 1992, mas já vetava que seus jogadores defendessem a Iugoslávia. A Eslovênia também já vivia um processo de separação avançado, porém, os atletas ainda disputaram aquela derradeira partida de 91.

Atletas de cada república que compunha a Iugoslávia que foram convocados nas eliminatórias para a Eurocopa de 1992

Com os conflitos se acirrando no final de 1991, os últimos dois jogos (lhas Faroe 0x2 Iugoslávia, em 16/10/1991 e Áustria 0x2 Iugoslávia, no dia 13/11/1991) trazem convocações bem diferentes do time que vinha sendo convocado.

A última campanha da antiga Iugoslávia

O ano de 1992 trazia no calendário da seleção iugoslava de futebol um amistoso contra a Holanda, a ser realizado no dia 25 de março, como parte da preparação para a Euro daquele mesmo ano. Em Amsterdam, a Iugoslávia foi derrotada por dois a zero. A equipe que foi a campo ainda se assemelhava muito com a formação que fez a última partida no ano anterior, exceto pelo fato que dessa vez, trazia entre os titulares quatro atletas bósnios.

No dia 27 de maio, viaja até a Itália para jogar um amistoso contra a Fiorentina, com torcedores protestando contra a presença dos Plavi[1]. No dia seguinte (28), a delegação iugoslava seguiu para a Suécia, sendo a primeira a chegar para disputa da Eurocopa com: oito sérvios (Stojkovic, Stanojkovic, Mihajlovic, Jokanovic,Dubajic, Jugovic, Petric e Jakovljevic), seis montenegrinos (Lekovic, Radinovic, Brnovic, Mijatovic, Vujacic y Savicevic), um bósnio muçulmano (Omerovic), um macedônio (Najdoski) e dois eslovenos (Milanic e Novak).

O genial Dejan Savićević (arte de Marija Markovic)

Ivan Osim, técnico da seleção até este período, abriu mão do cargo depois que o vilarejo onde sua família viva em Sarajevo foi bombardeado, sendo substituído pelo seu assistente, Ivan Cabrinovic (o único croata da seleção). Além disso, a maior parte dos jogadores bósnios (como Hadzibegic, Bazdarevic e Kodro) decidiram não ir à seleção da Iugoslávia para o Euro devido à guerra em sua república. O macedônio Darko Pancev, que acabara de ser contratado pela Inter de Milão, fez o mesmo e abandonou a equipe, além do fato de sua República da Macedônia estar prestes a proclamar sua independência.

Portanto, apenas jogadores da Sérvia e Montenegro (ou que atuassem em clubes sérvios ou montenegrinos, casos de Fahrudin Omerovic, Dzoni Novak, Vujadin Stanojkovic ou Ilija Najdoski) estavam prontos para jogar nesse torneio.

Imediatamente, a FIFA solicitou a lista dos jogadores convocados, sem explicar os motivos, sendo que os jogadores poderiam ser inscritos para o torneio até o dia 31 de maio.

O presidente da UEFA à época, Lennart Johansson afirmou no mesmo dia para uma rádio sueca que “tudo indicava que as sanções impostas pela Comunidade Europeia não incluíam o esporte e que a Iugoslávia talvez pudesse participar”. Porém, que também dependia da polícia para avaliar a segurança dos atletas.

O primeiro-ministro britânico, John Major, ameaçou proibir que a seleção inglesa viajasse para o torneio, caso os Plavi não fossem excluídos. Lembrando que o primeiro jogo da Inglaterra na competição era contra a Iugoslávia.

A Eurocopa começaria no dia 10 de junho, porém, poucos dias antes da bola rolar na Escandinávia, em 30 de maio, a ONU emite a resolução de número 757 (leia aqui na íntegra), que apresenta em seu conteúdo a seguinte orientação:

Neste mesmo dia, reuniram-se FIFA e UEFA para decidir se aprovariam mudanças no regulamento e aproveitaram para decidir o futuro da Iugoslávia, que foi vetada, devido às sanções impostas contra a Sérvia pelos ataques à Bósnia-Herzegovina.

A seleção da Iugoslávia no álbum de figurinhas da Eurocopa de 1992, a seleção que não entrou em campo…

Jogadores e comissão técnica retornam imediatamente para os Balcãs. A brilhante geração iugoslava já se esfacelava, enquanto o sangrento conflito estava em andamento, e ainda se estenderia até 1995 (estima-se que 140 mil pessoas perderam suas vidas nas “guerras iugoslavas”). No lugar da Iugoslávia, a Dinamarca, segunda colocada do grupo das eliminatórias, foi convidada a participar da competição, e, para surpresa geral, conquistou o título. Os atletas iugoslavos brilharam no restante da década e de suas carreiras, ostentando diferentes camisas e defendendo diferentes bandeiras. Mas a pergunta que sempre ficará no ar, ou melhor, nas mentes e nos corações dos apaixonados pelo bom futebol é: até onde Savicevic, Pancev, Boban e companhia teriam chegado jogando lado a lado. Nunca saberemos.

[1] Em sérvio significa “azul”. Forma como era chamada a seleção iugoslava por seus torcedores.

Especial: Álbuns da Copa, de 1970 a 1998 – PARTE 3, os anos 90

Chegamos a terceira e última parte do “Especial: Álbuns da Copa, de 1970 a 1998”. Dessa vez falaremos das edições produzidas nos anos 90. Naquela década tivemos os torneios de 1990, na Itália, de 1994, nos EUA e 1998, na França. De 2002 em diante, os álbuns seguiram sendo produzidos normalmente, mas deixamos para outro momento a história das edições mais recentes.

1990

A capa nacional para o álbum de 1990

A outra capa do álbum da Copa do Mundo de 1990

A Copa do Mundo de 1990 ganhou uma capa diferente no Brasil, veja acima o modelo nacional e o modelo internacional da Panini. Na edição brasileira, abre o álbum uma página com uniformes das seleções que até o certame de 86 já tinham conquistado títulos, já na edição oficial da fabricante, vamos direto para as figurinhas das cidades e estádios, também presente na edição nacional.

Como nas últimas edições, a primeira seleção é a Itália. Mas dessa vez, o fato se justifica por ser o retorno da anfitriã abrindo o álbum. Uma geração de grandes jogadores que não conseguiu levantar a taça em casa. No mesmo grupo A, dos italianos, estava a Tchecoslováquia, em sua última aparição em álbum de Copa. A queda do Muro de Berlim em 1989, e as transformações que ocorriam no leste europeu fizeram com que não fosse apenas a despedidas dos tchecos, mas também da tradicional seleção da União Soviética. Que está apenas algumas páginas depois no álbum.

O jovem Roberto Baggio, da seleção italiana

Tchecoslováquia, faz sua despedida em 1990

Antes dos soviéticos, estava a seleção que despachou brasileiros e italianos, a Argentina de Maradona e Caniggia. Outra equipe que chamou a atenção do mundo naquela edição da Copa, foi a seleção de Camarões, que divide a página com a Costa Rica, com figurinhas divididas. Formato que em breve seria aposentado pela editora responsável pelos álbuns. Se na seleção de Camarões, Roger Milla não ganhou figurinha, Omam-Biyik ganhou. O atleta foi responsável pelo primeiro gol daquela Copa, que deu a vitória para a seleção camaronesa frente aos argentinos atuais campeões mundiais na ocasião.

Omam-Biyik, gol histórico na estreia

Caniggia, gols decisivos contra Brasil e Itália

A seleção brasileira apresenta, pela primeira vez em álbum, mais jogadores atuando fora do país que em território nacional. De 17 cromos, 11 atuavam em outros países. Apesar de uma contusão ter prejudicado o atleta, Romário faz sua estreia em álbuns da Copa. A Alemanha Ocidental, que seria campeã, aparece pela última vez como “Ocidental”, já que a unificação das Alemanhas fez com que a partir de 1994, fosse apenas “Alemanha”.

Brehme, fez o gol que deu o título para a Alemanha Ocidental

A Colômbia, em seu primeiro álbum, de camisas vermelhas, é outro ponto curioso daquela edição, com direito a Valderrama e sua famosa cabeleireira. Muitos atletas do Atlético Nacional que ganhou a Libertadores de 1989, também faziam parte do selecionado colombiano e estavam presentes no álbum.

A forte seleção holandesa, campeã europeia de 1988, está ali também, e o genial Marco Van Basten ganha então sua única figurinha em álbuns da Copa do Mundo, Gullit, Koeman e Rijkaard ainda apareceriam em outras ocasiões. Fecha aquela edição, com figurinhas duplas, a equipe do Egito, que só foi voltar para um álbum de Copa agora, em 2018.

O genial Marco Van Basten

1994

Chegamos ao álbum da Copa de 1994, torneio em que a seleção brasileira se reencontrou com a taça de campeão do mundo. Era o último torneio com 24 seleções, em 1998 já seriam 32 equipes. Abrindo o álbum, as já tradicionais figurinhas das cidades e dos estádios. Logo depois, sem muita enrolação já ia direto para o grupo A, com os norte-americanos, donos da casa, abrindo o álbum. A Colômbia que não passou da primeira fase mas chegou como uma das favoritas também estava naquele grupo, e trazia craques como Rincon, na época, atleta do Palmeiras. Na página seguinte, um dos melhores jogadores daquela Copa, George Hagi, fazia sua segunda aparição em álbuns do mundial.

Hagi fez a diferença pela seleção da Romênia

Evair, estava no álbum mas não foi convocado pra Copa

A seleção do Brasil, que seria campeã, tem alguns erros, como os jogadores Evair e Palhinha, que sequer foram convocados, e não estão no álbum figuras que participaram diretamente do caminho para o tetra, como Aldair, Leonardo e Mazinho, que ganhou a vaga de Raí ao longo do torneio. A Rússia, que teve o artilheiro do Mundial, Oleg Salenko, aparecia pela primeira vez já com a União Soviética desmembrada.

O álbum não tem muitas novidades no formato, mas o destaque fica para alguns grandes craques que figuram em suas páginas, como Stoichkov, da Bulgária, Batistuta, Redondo, Maradona, Caniggia e Simeone, pela Argentina, Baggio e Baresi, pela Itália, e Bergkamp e Overmars aparecendo pela primeira como cromos da Copa, pela Holanda.

Romário, o melhor jogador da Copa de 94

O búlgaro Stoichkov

Argentina tinha uma seleção cheia de craques em 1994…

Bolívia e Noruega foram novidades naquela edição, a primeira até hoje não apareceu mais, já os escandinavos voltaram para bater o Brasil, quatro anos depois.

A única vez da Bolívia em álbuns da Copa

1998

Para encerrar nosso especial, aportamos no álbum da Copa da França de 1998. Com uma rápida abertura, apenas com figurinhas de estádios, pôster do Mundial, mascote e a taça, o álbum já passava direto para as equipes.

O Brasil, pela primeira vez, abria um álbum da Copa do Mundo. Como atual campeão, a equipe trazia Ronaldo pela primeira vez em um álbum, Edmundo, em única aparição, e listava Romário, que infelizmente, acabou preterido por Zagallo, assim como outros grandes jogadores, por exemplo, o zagueiro Mauro Galvão, que atravessava uma fase espetacular. Mas isso é outra história, voltemos para o álbum…

Edmundo, em grande fase, estava no álbum mas ficou no banco de reservas

Dupla de figurinhas da seleção da Noruega que venceu o Brasil

A Noruega aparece mais uma vez, com o então jogador do Chelsea, Tore Andre Flo, que liquidou o esquadrão canarinho. Mais uma vez um álbum sem grandes alterações e novidades no formato, os símbolos passaram a ser “brilhantes” e, aqui no Brasil, a diferença foi que as figurinhas passaram a ser autocolantes, o que ajudou consideravelmente crianças que faziam uma verdadeira “intervenção artística” em seus álbuns com o manuseio de cola para fixar os cromos.

As páginas da campeã do mundo de 1998

A França, que apresentou um grande futebol, trazia Henry, Trezeguet, Zidane, Deschamps, Djorkaeff, Thuram, Blanc, entre outros craques, e levantou a taça em casa. Desde 1978 a dona da casa não era campeã. Os franceses  voltaram a um álbum da Copa, de onde estiveram afastados desde 1986. A seleção da África do Sul fez sua estreia em álbuns, e a Dinamarca voltou a aparecer. O espanhol Guardiola se “transformava” em figurinha da Copa pela segunda vez e na seleção do Paraguai, cromos de atletas que atravessavam um grande momento no futebol brasileiro, como Gamarra (Corinthians), Arce (Palmeiras) e Rivarola (Grêmio).

Gamarra, no Corinthians, e Arce, no Palmeiras, nenhum dos dois clubes está no álbum da Copa de 2018

A seleção holandesa, que ao lado da França e da Croácia, talvez tenha apresentado o melhor futebol do mundial, trazia uma constelação de craques, muitos revelados no grande Ajax do meio da década. Falando em Croácia, a equipe aparecia pela primeira vez em um álbum, e contava com o artilheiro Davor Suker entre seus atletas.

A Holanda mostrou um excelente de futebol, mas ainda não foi dessa vez que ficou com a taça em uma Copa

Figurinha brilhante, novidade do álbum de 1998

Para encerrar o álbum, e nosso especial, a primeira aparição da Jamaica, sendo a última seleção a ganhar as figurinhas que trazem dois jogadores em um só cromo. A partir de 2002, cada seleção receberia o mesmo tratamento por parte da fabricante dos álbuns.

A seleção da Jamaica no álbum da Copa de 98

Especial: Álbuns da Copa, de 1970 a 1998 – PARTE 2, os anos 80

A segunda parte do nosso especial sobre os álbuns da Copa de 1970 a 1998, vai tratar dos álbuns dos anos 80. Naquela década aconteceram duas Copas, 1982 e 1986. Espanha e México receberam os torneios. Década que contou com o belo futebol apresentado pela seleção brasileira de 82, mas que acabou por consagrar um dos maiores craques de todos os tempos, Diego Armando Maradona, que até gol com a mão fez em 86.

1982

A Copa do Mundo de 1982 aconteceu na Espanha, para abrir o álbum o cartaz oficial, foto do mascote e da taça da Copa. Vale ressaltar que o cartaz fazia referência ao artista catalão Joan Miró, na sequência, tabela, estádios, e cartazes das diversas sedes do mundial. Naquela ocasião, e isso se repetiu em 1986, a primeira seleção não era a anfitriã, dessa vez a cabeça de chave do Grupo 1, era a Itália, que acabaria campeã do torneio. Ali estava Paolo Rossi, o grande carrasco da seleção brasileira e jogador decisivo nas partidas finais. O goleiro italiano, assim como em 70, 74 e 78, era Dino Zoff. O arqueiro estava em todos os álbuns até então.

Pôster oficial da Copa do Mundo de 1982

Figurinha do Estádio Sarriá, na cidade do Barcelona, onde o Espanyol mandava seus jogos. Palco da vitória italiana sobre o Brasil.

O italiano Paolo Rossi

O grupo da Itália tinha ainda Peru, Polônia e Camarões. E na página dos africanos um formato de figurinha que permaneceu por mais alguns álbuns começou a ser utilizado. Ao invés de menos figurinhas para seleções consideradas mais “fracas”, começou a ser utilizado um modelo que trazia dois jogadores no mesmo cromo. Dessa forma Camarões e Argélia e El Salvador e Kuwait, dividiram a mesma página, no selecionado camaronês o atacante Roger Milla já aparece entre os atletas.

Páginas com duas seleções em figurinhas duplas, novidade no álbum de 1982

Pelo grupo 3, nas páginas dedicadas a seleção argentina, está lá pela primeira vez o genial, Maradona. Ainda como atleta do Boca Juniors. Kempes, Passarela e Ardiles também figuram no álbum. Na Bélgica um jovem Michel Preud’Homme também ganha sua primeira figurinha na história dos álbuns.

A primeira aparição de Maradona nos álbuns da Copa

Era um álbum que contava com mais figurinhas do que os anteriores, sobretudo, porque a partir daquele momento a Copa do Mundo passava a ter 24 seleções, e não 16, como era anteriormente. Isso fez com que a parte de “seleções eliminadas” que fechou os álbuns de 74 e 78 fosse excluída.

No grupo 5 a Espanha, dona da casa, e abrindo o grupo 6, a forte seleção brasileira, que assim como a Holanda de 1974, encantou por seu bom futebol, mas não levantou o troféu. O Brasil caiu nas quartas de final, frente a Itália. Pela primeira vez na história dos álbuns um jogador aparece atuando por um clube de fora do país. Era Falcão, que já brilhava na equipe da Roma, onde fez muito sucesso. A equipe do São Paulo, aparecia com 5 atletas nas páginas brasileiras do álbum. Na sequência, a União Soviética, com uma forte seleção, que contava com o grande goleiro Dasaev e também com alguns atletas do Dinamo Tbilisi, que chamou atenção do mundo do futebol em 1979 ao eliminar o poderoso Liverpool de uma competição europeia.

Falcão, primeira vez que aparece um atleta brasileiro atuando por uma equipe estrangeira nos álbuns da Copa

Socrátes e Zico, lado a lado no álbum do mundial de 1982

Figurinha da seleção da União Soviética, que fez sua estreia contra o Brasil naquela Copa

1986

A edição de 1986 do álbum oficial de figurinhas da Copa do Mundo, mais uma vez trazia cartaz do mundial mascote, cidades e estádios em sua abertura. Nessa ocasião figurinhas de todos os cartazes dos mundiais anteriores também contava, nas páginas de apresentação. A Itália era a cabeça de chave do grupo A, e por isso aparecia abrindo o álbum. A Argentina que seria campeã, graças ao craque Maradona, aparecia em terceiro do álbum, já que não era cabeça de chave e por isso caiu na mesma chave dos italianos. Estão ali, além de Maradona, Pumpido, Burruchaga, Borghi, que conquistou a Libertadores com o Argentinos Juniors um ano antes, entre outros jogadores que fizeram a diferença naquela mundial.

Cromos de todos os pôsteres das Copas até 1986.

Bochini, Maradona e Burruchaga, trio de craques na página da seleção argentina

Com o formato de figurinhas divididas para as seleções que teoricamente não teriam destaque, estão dispostos nesse formato, dividindo páginas, Coreia do Sul e Iraque, Canadá e Argélia, e na última página o Marrocos, também tem dois jogadores dividindo o mesmo cromo.

O México, dono da casa, estava no Grupo B, que também tinha a Bélgica que chegou nas semifinais, o Iraque, e a seleção do Paraguai, que tinha entre suas figurinhas o ídolo do Fluminense, Romerito. A seleção brasileira estava no Grupo D, e dessa vez contava com três atletas atuando fora do Brasil, e todos na Itália. Eram eles Toninho Cerezo, que também atuava pela Roma, Edinho que estava na Udinese e Júnior que jogava na época pelo Torino. Porém um outro clube fora do comum aparecia no álbum de 1986, era a Inter de Limeira, que contava com o atacante Éder em seu elenco.

Romerito, figurinha do Paraguai e ídolo do Fluminense

Éder leva a Inter de Limeira para o álbum da Copa do Mundo de 1986

Do grupo E, vinha a seleção que mais chamou atenção na primeira fase da Copa. A famosa Dinamarca, que passou a ser chamada de “Dinamáquina” pela imprensa brasileira. Mesmo em um grupo que contava com Alemanha Ocidental, que acabaria vice, e com o bi campeão Uruguai, os dinamarqueses passaram de fase convencendo. Batendo os alemães por 2 a 1 e massacrando os uruguaios por 6 a 1 logo na primeira partida. Laudrup, Elkjaer, Lerby, Olsen, Arnesen, Nielsen, entre outros, com certeza foram se tornando “figurinhas” mais valiosas com o passar da Copa. Na celeste que foi destroçada pelos escandinavos estava o então palmeirense Diogo, e no banco de reservas estava o ótimo goleiro do Santos, Rodolfo Rodriguez. Os dois aparecem no álbum.

A  seleção da Dinamarca de 1986.

Rodolfo Rodriguez e Diogo, Santos e Palmeiras no álbum do mundial de 86

No grupo F a seleção portuguesa fazia sua primeira aparição em álbuns da Copa, já que a última vez que tinha participado de um mundial foi em 1966, quando a Panini ainda não produzia os álbuns. Na página seguinte estava a seleção inglesa, eliminada com dois gols de Maradona, um driblando meio time e outro o famoso gol com a mão. O artilheiro da Copa, Gary Lineker, aparecia no selecionado inglês, como atleta do Everton.

Cromo do inglês Lineker, eliminado nas quartas, mas artilheiro com 6 gols do mundial de 1986

Na terceira e última parte do especial, abordaremos as Copas de 1990, 1994 e 1998.

Especial: Álbuns da Copa, de 1970 a 1998 – PARTE 1, os anos 70

A partir de 1970 a Panini passou a produzir álbuns de figurinhas da Copa do Mundo, e assim acontece até os dias de hoje. Já está na banca a edição do Mundial de 2018. Muitos acreditam que a Copa de 2014 pode ter sido o exemplar com o maior número de vendas. Apesar da fabricante não emitir dados oficiais que propiciem uma comparação adequada, as 100 milhões de cópias impressas do Mundial realizado no Brasil apontam para que esse seja o maior sucesso de todos os tempos.

Nessa primeira parte do especial sobre os álbuns das copas produzidos no século XX, começamos com a década de 70. Nesse período três torneios aconteceram, consequentemente, a mesma quantidade de edições dos álbuns. Falaremos primeiro sobre o álbum de 1970…

1970

O álbum da Copa de 1970, que aconteceu no México, trazia em suas primeiras páginas figurinhas dos mundiais anteriores, de 1930 até 1966, assim jogadores como Stabile, da Argentina, Schiavo, da Itália, os brasileiros Leônidas, Didi e Garrincha, o uruguaio Ghiggia, os hungáros Kocsis e Puskas, o português Eusébio, entre outros craques, ganharam seus cromos no álbum de estreia. Uma figurinha com o pôster oficial de cada mundial e a foto da equipe campeã completavam a abertura.

O craque Leônidas, figurinha no álbum de 70 relembrando a Copa de 1938

Ghiggia, fez a diferença na Copa de 50 e virou figurinhas 20 anos depois

Na sequência, assim como hoje em dia, as seleções apareciam por ordem de grupos da Copa, começando com o anfitrião, naquela ocasião o México, desde então o cabeça de chave do primeiro grupo. A seleção do Uruguai ainda aparece com o seu distintivo anterior, Israel faz sua única aparição em álbuns da Copa, e as seleções brasileiras, inglesa, italiana e alemã aparecem com seleções recheadas de craques.

O símbolo do Uruguai na Copa de 1970

No caso da equipe do Brasil, além da constelação de estrelas, é curioso notar que nenhum atleta atuava fora do país, fato que ainda se repetiria por algumas Copas. O goleiro titular Félix, não ganhou figurinha, no álbum estão Ado, do Corinthians e Leão, do Palmeiras. E é a única vez que Pelé aparece como jogador em um álbum da Copa, sem dúvida uma figurinha raríssima na história do futebol.

Pelé!

1974

A Copa do Mundo da Alemanha Ocidental de 1974, traz em sua capa, lançada em alguns países, o enunciado “Munique 74”, mas na verdade foi realizada em 9 cidades daquele país. Dessa vez, as Copas anteriores são relembradas com cromos de lances das partidas e jogadores levantando troféus. Existe também, antes das figurinhas das seleções participantes, uma sequência no mínimo curiosa dos mascotes do mundial jogando futebol e na sequência cromos dos estádios onde seriam realizadas as partidas.

Beckembauer, e a Alemanha Ocidental de agasalho e camisa verde no álbum da Copa

A seleção alemã abre o álbum, com um agasalho azul da Adidas, e por baixo, a tradicional segunda camisa verde. O famoso treinador, Helmut Schön ganha uma figurinha, assim como o presidente da federação da Alemanha Ocidental na época. Fazendo o papel de “Muro de Berlim” no álbum está a seleção australiana, isso porque ela está justamente entre as duas Alemanhas no álbum. Os comunistas do lado oriental participaram naquela ocasião do único mundial de sua história, e justamente no grupo dos rivais ocidentais, completando aquele complexo grupo (ao menos politicamente falando) estava o Chile, que um ano antes tinha passado por um golpe militar, que fez com que a União Soviética desistisse de participar do torneio, mas isso é outra história… (que pode ser lida aqui). (e aqui a história do jogo entre as duas Alemanhas)

O cromo da equipe da Alemanha Oriental

A seleção brasileira também ganhou figurinhas do treinador, Zagalo, e do presidente da federação, João Havelange, mas nem todas as seleções do álbum ganharam. Aqui mais uma vez, só atletas brasileiros atuando atuando em clubes nacionais.

Outro grande destaque da edição de 1974 é a seleção holandesa, que fazia sua primeira parição em mundiais, e trazia ao álbum craques como Cruyff, em sua única aparição em um álbum de Copa e já como atleta do Barcelona, Rep, Krol, Neeskens, todos do Ajax, entre muitos outros craques. Eram as duas páginas da lendária “Laranja Mecânica”.

Cruyff, a estreia da Holanda nos álbuns das Copas

Como, naquela época, apenas 16 seleções se classificavam para a Copa, era natural que muitas grandes equipes ficassem de fora, então no álbum daquele ano resolveram o problema incluindo quatro figurinhas de algumas boas seleções que ficaram pelo caminho e não garantiram vaga para o mundial. Entre elas estão Inglaterra, União Soviética, França, Espanha e Portugal.

1978

Para a Copa do Mundo de 1978, na Argentina, a empresa que produz o álbum mais uma vez mais uma vez abre a edição com lembranças de mundiais anteriores, dessa vez, foto da equipe campeã, um jogador da seleção que levantou a taça e os pôsteres de cada torneio mais uma vez estão presentes. Na sequência os estádios estão representados por ilustrações ao invés de fotos.

Houseman e Kempes, figurinhas da Argentina que levantaria sua primeira taça do mundo.

O então jovem Platini no álbum de 1978

O já experiente Rivelino, na Copa e atuando pelo Fluminense. No álbum de 2018 não tem nenhum jogador atuando por clubes brasileiros

A seleção que conquistaria aquela Copa, a Argentina abre o livro ilustrado. Com Passarela, Ardiles, Houseman, Kempes e companhia, algumas páginas depois, o jovem Platini aparece na seleção francesa. Na Polônia brilha o craque Lato mas na Holanda Cruyff não apareceu, pois não viajou em protesto contra a ditadura que vigorava no país anfitrião. A seleção do Irã faz sua estreia em um álbum. E para encerrar, mais uma vez, grandes seleções que ficaram fora, com a Dinamarca recebendo algum reconhecimento pela primeira vez. Como em 74, são 4 atletas e mais o símbolo de equipes que poderiam ter ido, mas não foram…

Algumas equipes que não iam para a Copa ganhavam algumas figurinhas mesmo assim…

A segunda parte do nosso especial vai tratar dos álbuns de 1982 e 1986….

Um retrato, ainda atual, do futebol brasileiro

O Campeonato Brasileiro da Série B nem sempre foi realizado. A sua primeira edição data de 1971, ano do primeiro Campeonato Brasileiro no formato atual. Naquele ano o Villa Nova de Minas Gerais foi o campeão. No ano seguinte, 1972, o torneio voltou a ser realizado com o maranhense Sampaio Corrêa levantando a taça. Depois disso, apenas em 1980 o certame voltou a acontecer.

Com diversas mudanças de calendários, regulamentos e formatos, e principalmente, com o aumento de clubes na Série A, que eventualmente tinha suas vagas decididas nos estaduais, o que valorizava ainda mais os torneios regionais, a Série B foi deixada de lado, só retornando, sob a alcunha de Taça de Prata, em 1980. Acontece que a Taça de Prata não era exatamente uma segunda divisão, pois alguns clubes subiam no mesmo ano para a Série A (Taça de Ouro na época) e outras piores colocadas nas fases iniciais da Taça de Ouro, caiam no mesmo ano para a versão de prata do torneio.

Após uma década muito confusa, incluindo o episódio Copa União em 1987, quando dois torneios nacionais foram realizados, no ano de 1989, com o Brasil às portas de sua primeira eleição para presidente depois da ditadura e no ano da realização da primeira Copa do Brasil (saiba mais aqui), a CBF decide organizar o que chamaria de Divisão Especial, o que seria equivalente a Série B do Campeonato Brasileiro.

Para a disputa da competição foram relacionados 96 clubes. Times do país todo disputando duas vagas na divisão principal de 1990. A revista Placar, edição 1011, de 27 de outubro de 1989, trouxe uma reportagem especial sobre a competição, destacando 16 equipes de diversas partes do Brasil, e os contrastes são inacreditáveis, mesmo que saibamos que se um torneio com essas dimensões fosse repetido hoje em dia, os mesmos desníveis apareceriam novamente.

Jogadores do Princesa do Solimões em seu local de treino

Entre as primeiras equipes destacadas está o Princesa do Solimões, clube da cidade de Manacapuru, no estado do Amazonas, única equipe do interior amazonense a disputar a Série B do nacional até hoje. Os atletas do clube apontavam na matéria da Placar, a sua localização geográfica como grande arma para surpreender os adversários, e os treinos, como demonstra a imagem acima, aconteciam nas margens do próprio Rio Solimões.

As histórias inacreditáveis, e não em um bom sentido, se repetem na reportagem a cada nova equipe que era apresentada. O Nacional, da cidade de Patos na Paraíba, não podia treinar diariamente no estádio municipal onde realizava seus jogos, o clube procurava então, nas palavras de seu atacante no período, campos de pelada para praticar o futebol. O Capelense, de Alagoas, reclamava que na viagem para Caruaru, para enfrentar a equipe local, o Central, seu ônibus foi invadido por assaltantes que levaram todo o dinheiro e até as roupas dos atletas, isso sem contar que a equipe mandava seus jogos em Viçosa, distante 25Km de Capela, a cidade do time.

Já o Ubiratan, de Mato Grosso do Sul, realizava seus treinamentos em um campo localizado em uma reserva, e vez ou outra a seleção indígena local queria participar da peleja também, segundo a matéria, o gramado ficava em uma área cercada por “gigantescas perobas com mais de 100 anos”. Da tríplice fronteira, Brasil/Paraguai/Argentina, vinha o Foz do Iguaçu (não confundir com a equipe atual de mesmo nome), e no trecho que apresenta esse clube o fato de receberam apoio de duas fontes de dinheiro bem diferentes chama a atenção. Um fonte era a estatal Itaipu, a outra era o dinheiro de bicheiros cariocas, e tudo isso convivendo em perfeita harmonia nas contas do clube paranaense.

Partida entre o Ubiratan (MS) e a seleção indígena local

Rio Branco do Acre, Itaperuna do Rio de Janeiro, que tinha apenas três meses e já estava no torneio, o Blumenau-SC, que tinha uma ótima estrutura e contava com vários patrocinadores, o gigante Santa Cruz-PE, o vice-campeão paulista daquele ano, São José, e que conseguiu uma das duas vagas pra Série A, ao lado do campeão do torneio que foi o Bragantino, treinado então por Vanderlei Luxemburgo, (que também conquistou a primeira divisão do campeonato paulista do ano seguinte e que no caminho pro título nacional eliminou nas fases finais o Juventus-SP, Criciúma-SC, Remo-PA, até chegar na final contra o São José), a matéria é uma grande compilação de equipes que como maior problema, além da falta de dinheiro, tinham a falta de apoio em suas próprias cidades e nenhuma condição nem para realizar treinos e jogos, são muitos os casos nesse torneio de equipes que mandavam suas partidas fora de suas cidades.

Tinha até zagueiro-mecânico, caso do Aroldo, do Colatina-ES (foto abaixo), que suava por um salário mínimo arrumando ônibus, para seguir jogando seu futebol, e lutando por uma sonhada vaga na Série A, do então futebol tri campeão do mundo.

O zagueiro-mecânico, Aroldo, do Colatina-ES

O que tudo isso pode nos fazer pensar é que certamente as dificuldades para equipes fora dos grandes centros, que são na verdade 4 ou 5 cidades, seguem existindo, pegando carona em uma reflexão de Hilário Franco Júnior, em seu texto “Brasil, país do futebol?”, podemos nos perguntar se somos o país desse esporte, ou se somos apenas uma nação que produz grandes futebolistas. As pessoas gostam de torcer para quem vence, ou existe mesmo uma ligação entre a comunidade e equipes locais, seja lá em que divisão a equipe que ostente a camisa da cidade, ou do bairro, esteja?

Fomos todos afastados desse enraizamento com o futebol local pelo grande poder da mídia (rádio e depois TV), ou as grandes mídias na verdade formaram esse peculiar gosto pelo futebol do brasileiro, que de outra forma nem existiria? E digo peculiar, porque não me lembro de outro país onde tantas pessoas torçam para clubes tão distantes de suas cidades enquanto os times locais vivem as mínguas, atolados em estaduais cada vez mais desvalorizados…

Não é a intenção desse texto responder todas essas questões, mas apenas apresentar um retrato de um país de praticantes de futebol que teimam em tentar a sorte chutando uma bola, mesmo que nem seus conterrâneos estejam lá muito preocupados com suas jogadas e suas camisas.

Sobre geopolítica e Eurocopa

União Soviética, campeã da Euro de 1960

Quem acompanha futebol, e mais especificamente o futebol europeu, sabe que a Eurocopa acaba por refletir ao extremo as transformações geopolíticas do continente, e do mundo. Desde a primeira edição, disputada em 1960, na França, disputas políticas e ideológicas marcam o percurso do torneio, e na próxima edição não será diferente…

Criado em 1960, o então chamado Campeonato Europeu das Nações, teve que lidar com a desistência de grandes seleções como Alemanha Ocidental, Inglaterra e Itália. Ainda na fase eliminatória do torneio, que teria apenas 4 seleções na sua fase final, a Espanha de Franco desistiu também, por se negar a enfrentar a União Soviética, em território soviético.

A França acabou sediando a primeira edição, que foi vencida pela URSS que bateu os iugoslavos por 2 a 1. Com um gol na prorrogação.

Em 1964, a UEFA leva o torneio justamente para a Espanha de Franco, e a URSS não desiste e disputa o torneio, ao lado da Dinamarca e da Hungria. Na final, os espanhóis evitam o bi campeonato soviético e vencem por 2 a 1. Em 1968, o certame passa a se chamar Campeonato Europeu de Futebol.

A competição teve a participação de 4 equipes até 1976, quando foi realizada, pela primeira vez, em um país do chamado “bloco socialista”, na Iugoslávia. Mas apesar de normalmente ir bem nos torneios de seleções, montando grandes equipes, os iugoslavos não levantaram a taça em casa. O título ficou com outro país na época socialista, a Tchecoslováquia.

Em 1980, a “Euro” começa a receber 8 seleções para a fase decisiva. Mas aquela batalha que marcava a disputa europeia desde 1960, entre seleções socialistas do leste, contra seleções ocidentais, estava prestes a mudar. Mesmo que a Europa ainda não soubesse, 1988, na Alemanha Ocidental, marca a última aparição da União Soviética no campeonato. A primeira campeã e equipe que sempre chegava nas fases decisivas, disputou sua última final, sendo derrotada pela Holanda por 2 a 0, e não existiria mais em 1992…

A primeira Euro dos anos 90, em 1992, foi realizada na Suécia e seria a última com 8 seleções. A URSS, que obteve vaga, foi substituída pela CEI, Comunidade dos Estados Independentes, que na prática trazia boa parte da seleção da URSS, mas agora como um conglomerado de pequenas nações. Por conta do início da Guerra da Bósnia, a Iugoslávia, que também estaria na Suécia para a fase final, foi eliminada pela UEFA, em seu lugar foi chamada a Dinamarca, que tinha sido batida pelos iugoslavos nas eliminatórias. Para surpresa geral, os dinamarqueses convidados, foram campeões no final.

O alemão Klinsmann, recebe a taça da Euro de 1996 realizada na Inglaterra

Em 1996, um continente com um número muito maior de nações independentes, resultado da queda do Muro de Berlim e consequente dissolução de nações como URSS e Iugoslávia, precisava de um torneio com mais equipes também. A solução foi dobrar a quantidade de vagas para a fase final da Euro. Teríamos, no torneio sediado na Inglaterra, 16 países. República Tcheca, Rússia e Croácia aparecem entre os classificados, apontando o novo momento do continente europeu. E quase os tchecos levam o título, perdendo de virada na final para a Alemanha.

De lá pra cá, poucas coisas mudaram, a novidade de dois países sediarem um mesmo torneio foi uma das poucas alterações, Holanda e Bélgica em 2000, Áustria e Suíça em 2008 e Polônia e Ucrânia em 2008 organizaram suas próprias competições conjuntas. A edição de 2016 contou com um novo aumento de participantes, agora são 24.

Um novo episódio da política da região aparece mais uma vez refletido na história da competição. Em 2020, pela primeira vez, a competição será sediada por toda a Europa. O plano da UEFA, era que 13 cidades, de 13 diferentes países, recebessem as partidas da Euro, acontece que a Inglaterra estava nos planos, e com o resultado recente do chamado Brexit, plebiscito que apontou a vontade dos britânicos pela saída da ilha da União Europeia, a relação poderia ter ficado estremecida.

Mas ao que parece, a competição, que acontecerá justamente um ano após a formalização da saída do Reino Unido da União Europeia servirá de certa forma para demarcar que as portas da ilha continuam abertas para os europeus. O prefeito de Londres, cidade que receberá as semifinais e a final do torneio, Sadiq Khan, afirmou que a cidade está aberta para receber todos.

Outro ponto a ser destacado é que Londres, de última hora, ganhou um número maior de partidas da Euro, justamente pela saída de Bruxelas, capital belga e cidade que abriga o Parlamento Europeu. O motivo da saída de Bruxelas foi a falta de garantias para a construção de um novo estádio para a ocasião.

Faltam dois anos para a próxima Eurocopa, Portugal de Cristiano Ronaldo é o atual campeão, mas é certo que a cada quatro anos o torneio seguirá sendo um forte reflexo da política europeia e de suas consequências.

Jogadores de Portugal comemoram o gol do título em 2016

O primeiro Palmeiras x Corinthian (sem s)

A equipe da Associação Atlética das Palmeiras, em foto sem identificação do ano.

O ano era 1910. O dia era 31 de Agosto. Entrava em campo, o Palmeiras, atual campeão paulista na época, que vinha de uma vitória por 5 a 2 sobre o SPAC e construía então o caminho para o bi campeonato paulista.

O Palmeiras, com seu tradicional uniforme branco e preto, não conseguiu segurar os ingleses do Corinthian F.C, e terminaram o primeiro tempo perdendo por 2 a 0. Apesar de alguma pressão no segundo tempo, não conseguiram se aproximar no placar e a partida terminou com o mesmo score do primeiro tempo.

A forte equipe do bairro de Santa Cecilia, que mandava suas partidas no Parque Antártica, não conseguiu segurar os ingleses, que logo na sua chegada ao país, apenas uma semana antes, tinham passado por cima do Fluminense, no Rio de Janeiro, por 10 a 1.

Um dia depois, da partida entre Associação Atlética das Palmeiras e Corinthian F.C, da Inglaterra, era fundado, no bairro do Bom Retiro, o Sport Club Corinthians Paulista. Pequenos comerciantes influenciados pelo futebol da equipe inglesa, que resolveram batizar o novo clube com o mesmo nome, e que poderia ter se chamado Santos Dumont ou Bandeirantes F.C. Acabou chamando Corinthians e, por ironia do destino, carregando as cores do clube de Santa Cecilia, o Palmeiras.

A equipe inglesa do Corinthian F.C. em foto de 1897.

Hereford x Newcastle em 1972

A partida que era pra ser apenas mais um passo do Newcastle na busca por um título da Copa da Inglaterra,  a equipe já tinha 6 taças, quantidade que possui até hoje, e pegava o modesto Hereford United, que jogava na Southern League (uma espécie de quinta divisão), pela terceira etapa das eliminatórias do torneio mais antigo do mundo.

No dia 24 de janeiro de 1972, as equipes se enfrentaram em Newcastle, e um empate em 2×2, levou a partida para o que os ingleses chamam de “replay”, que é um segundo jogo para desempatar o embate. Mas dessa vez o jogo seria em Hereford, cidade localizada em Herefordshire, em uma região fronteiriça com o País de Galês onde ainda hoje boa parte dos habitantes fala galês.

A partida foi remarcada 3 vezes, e precisou ser cancelada nas 3 ocasiões por conta de fortes chuvas. Finalmente, no dia 5 de fevereiro de 1972, a bola rolou, ou quase isso, por conta do campo cheio de lama, em função das tempestades. O número oficial de público na partida é de 14,313, embora estima-se que mais de 16 mil pessoas estivessem presentes. A capacidade do estádio era 14 mil pessoas. Mas esses números de qualquer forma, não contabilizam as centenas de pessoas que assistiram das árvores e dos telhados ao redor de Edgar Street, como é chamado o campo do Hereford United.

O vídeo do jogo é sensacional. Não foi transmitido ao vivo, e sim em um programa da BBC, chamado “Match of the day”, que apresentava o “compacto”, ou os melhores momentos de algum jogo do final de semana.

O símbolo do Hereford em 1972

O Hereford jogou de camisas brancas e calções pretos, o Newcastle entrou com segundo uniforme da época, todo vermelho. A questão era apenas saber como a equipe do norte resolveria a questão e despacharia os donos da casa. E, apesar da dificuldade para abrir o placar, o atacante Malcolm Macdonald, parecia resolver a questão quando fez 1 a 0 para o Newcastle aos 37 do segundo tempo. Quem poderia acreditar em uma reação do Hereford?

Foi então que Ronnie Radford, aos 42 minutos, acertou de primeira um chute perfeito, e empatou a peleja. A reação dos torcedores locais é impressionante, e em poucos segundos o gramado estava completamente tomado por milhares de pessoas comemorando o gol.

Gol de empate com festa no gramado

Com a situação já controlada a partida seguiu para a prorrogação. No tempo extra, o inacreditável aconteceu aos 13 minutos do primeiro tempo, quando Ricky George, que tinha entrado no final do tempo regulamentar, recebeu uma bola no meio da área e bateu cruzado. Sem chances para o goleiro do Newcastle, Willie McFaul. Hereford 2 a 1. O Newcastle não teve forças para reagir e foi eliminado.

A partida, em 2007, foi eleita por leitores de um jornal britânico como a mais emocionante de todos os tempos na FA CUP, ou a Copa da Inglaterra.

O vídeo é realmente incrível e com direito a narração da época: